Quando se fala no mundo do cinema, é muito comum pensarmos em Hollywood como o principal nome da cinematografia global. No entanto, o Oriente carrega em suas produções uma indústria ainda mais popular e cheia de história: trata-se de Bollywood, na Índia.
Sendo seu nome a junção entre “Hollywood” e “Bombaim”, cidade onde surgiu e que hoje é chamada de Mumbai, Bollywood já supera a indústria estadunidense em lançamentos anuais e espectadores na Índia. Anualmente, são, em média, 500 filmes e surpreendentes 3,6 bilhões de ingressos vendidos para longas indianos.
Tudo começou em 1913, com o lançamento de “Raja Harishchandra”, um filme mudo. Quase duas décadas depois, as produções ganharam som quando, em 1931, foi lançado “Alam Ara”, o primeiro filme Bollywoodiano com áudio. Desde então, a música tornou-se excepcional no sucesso do cinema indiano. Atualmente, os filmes musicais possuem uma presença significativa na Índia, e são produzidas cerca de 2400 canções para as produções anualmente.
Os filmes abordam os mais diversos temas, e a época em que são feitos é determinante para tal. Na década de 1940, por exemplo, a Índia passava por um momento histórico conturbado, marcado principalmente por sua independência. Os filmes tratavam, em grande parte, de temas sociais. Posteriormente, predominaram romances, dramas e, nos anos 2000, filmes de ação e comédia. Foi nesse momento que ocorreu a maior popularização de Bollywood mundialmente, além de um novo nível de desenvolvimento para as produções indianas.
Ainda tratando dos anos 1940, destaca-se o fato de que, com a independência do país, os filmes buscaram formar uma identidade nacional indiana. Com a representação da pluralidade de valores, crenças, tradições e línguas que abrangem o território da Índia, surgiu um senso de identidade comum entre a nação. O retrato dos elementos da cultura indiana, incluindo aspectos como vestimentas, culinária e festividades, ajuda a preservar a rica herança cultural do país e a criar essa noção de coletividade. As músicas e danças também demonstram a força da influência artística nos filmes da Índia.
Os filmes com temas envolvendo lutas sociais tiveram uma forte presença até os anos 1980, denunciando, por exemplo, os altos índices de violência no país. Nos anos 1990, a Índia registrou um crescimento econômico e, consequentemente, a indústria cinematográfica se desenvolveu e cresceu junto. Agora, os filmes eram vistos pelo governo como estimulantes do PIB indiano e abordavam temas mais populares do cinema mundial, como histórias românticas e dramas familiares.
O público indiano continuava a preferir produções que retratassem sua realidade, e, nos anos 2000, a internacionalização de Bollywood consagrou de vez essa indústria na cinematografia global, superando Hollywood tanto no número de lançamentos quanto no de espectadores, no que atualmente é o país mais populoso do mundo.
Essa internacionalização foi impulsionada por inúmeros fatores, como a chamada liberalização econômica da Índia, processo da década de 1990 que abriu a economia indiana ao mundo, atraiu investimento estrangeiro e ampliou a perspectiva de mercado e consumo; a diáspora indiana, com um crescente fluxo de pessoas e comércio para diversos lugares do globo, incluindo potências internacionais como os EUA e a Inglaterra; e a combinação de elementos da cultura indiana local com uma abordagem global nos filmes Bollywoodianos.
A expansão de Bollywood na cena cinematográfica mundial representou, portanto, mais visibilidade para o que foi construído como parte da identidade nacional indiana, trazendo mais destaque para as raízes da cultura local e movimentando cada vez mais sua economia e seu turismo. Além disso, serve como uma forma de soft power, à medida que é capaz de moldar e espalhar uma visão específica sobre a imagem do país no cenário global. A influência de Bollywood na cinematografia internacional é, enfim, um grande exemplo de fenômeno da globalização e tende a crescer cada vez mais como uma figura importante da indústria do entretenimento nos mais diversos cantos do mundo.